domingo, 21 de setembro de 2008

Espantando os zumbis




Quando criança trocava rápido de canal quando via na TV um anúncio de filme de terror; apenas os trechos que apareciam durante o intervalo comercial já eram suficientes para incomodar meu sono, caso fossem vistos à noite. Meu irmão mais velho insistia para que eu assistisse filmes de fantasmas e mortos-vivos, mas eu sempre tinha uma desculpa. Caso ocorresse a morte de alguma celebridade, ou político conhecido e as notícias relacionadas à sua morte aparecessem repetidamente nos noticiários ou nos plantões jornalísticos das emissoras de televisão, as imagens se fixavam de tal forma em minha mente que sentia dificuldade de dormir.
Sonhos com mortos voltando, encontros com pessoas que já se foram, a impressão de alguma coisa ou alguém em baixo da cama, barulhos percebidos sem haverem sido produzidos, enfim, coisas do gênero. Acreditava que os mortos poderiam voltar. Foi de grande conforto descobrir o que a Bíblia diz acerca da morte, perceber que os mortos não têm “parte em coisa alguma que acontece debaixo do sol” (Eclesiastes 9:6), logo não podiam puxar meu pé e nem me visitar à noite.
Ocorre que há alguns dias me dei conta de que alguns “mortos” voltam, não da sepultura. São mortos que foram enterrados de outra forma, não foram vencidos pela morte que leva ao cemitério, e sim por uma substituição: uma velha vida, por uma nova vida. O apóstolo Paulo nos diz que fomos sepultados com Cristo pelo batismo (Romanos 6:4) e nascemos com uma nova vida. Não é maravilhoso pensar que no batismo morre aquela pessoa que desagradava a Deus, que se afeiçoava ao pecado? Comparando, seria como se um doente à beira da morte, vítima de um vírus fatal, recebesse a noticia de que o vírus morreu, dando-lhe assim a oportunidade de recomeçar a vida.
O fato é que as coisas nem sempre são tão definitivas assim, “pois o bem que quero fazer esse não faço e sim o mal” (Romanos 7:19). Quantas vezes a pessoa enterrada no tanque batismal não volta como um zumbi? Seja no trânsito, no jogo de futebol, diante do computador, ao rever velhos amigos, em crises espirituais, com desejos que há tanto não eram sentidos, com manifestações de ira que há tempos não ocorriam, ou na incredulidade típica dos momentos sem Deus e sem a esperança que ele proporciona. Os mortos voltam a incomodar, como se não estivessem devidamente enterrados ou não tivessem sido mortos, apenas golpeados; voltam com força e sentimos que a velha vida era – essa sim – a nossa vida.
Certas vezes ocorre o pior: somos os agentes que devolvem a vida àqueles mortos sepultados por nossos irmãos. Trazemos à memória aquilo que eles foram, como se não tivessem mudado, ou nem estivessem se esforçando para isso. Os velhos hábitos, as maneiras de viver, os desejos que foram enterrados no batismo voltam a assombrar aqueles, que como nós, pertencem à família de Deus, pois repetidas vezes lhes reapresentamos o passado que morreu, mas que por nossas palavras e ações permanece por perto.
Não há como fugir, uma hora ou outra com certeza nos enquadraremos em uma dessas duas situações. Ou nos encontraremos com aquelas partes do nosso “eu” que foram enterradas, ou promoveremos o encontro entre nosso irmão e seu passado.
O que fazer? Talvez uma idéia seja olhar para o que Paulo diz em Romanos 6:4 “… para que como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai andemos nós também em novidade de vida”. Nós temos uma nova vida, morremos para o pecado e temos todos os dias o direito de viver uma vida que é constante novidade, que nunca se tornará velha. Mesmo depois de anos de cristianismo, ainda estaremos vivendo uma nova vida. Não podemos evitar o encontro com os velhos “eus”, mas podemos mantê-los no passado. Encontraremo-nos com quem éramos, mas não somos mais escravos do que fomos. As tentações para retornarmos ao lugar de onde saímos continuarão existindo. Os zumbis continuarão nos assombrando. Desejos voltarão a ser sentidos. Convites para lugares não mais freqüentados serão recebidos novamente. Sua vida passada continuará lhe incomodando.
Quais são as boas-novas?
O passado pode apelar aos nossos desejos, mas não pode nos obrigar a ser a velha criatura. O corpo glorificado de Cristo carrega as marcas do sofrimento no passado. Jesus se lembra da cruz, mas jamais voltará a ela.
Pode ser que em seu corpo ou mente existam marcas do passado, mas pela graça e sangue de Jesus você não precisa mais voltar para ele. Você não poderá impedir as “assombrações”, mas peça poder de Deus para que, pela misericórdia dEle, elas permaneçam no mundo dos mortos e você no mundo dos que vivem a “novidade de vida”.

3 comentários:

Olhar de Isa disse...

Poxa que legal...olha só quem eu encontrei nos blogs!!!
Um colega blogueiro...
Muito legal teu texto.
Boa semana pra ti.

cândido gomes disse...

grande tiago! este texto eu conheço bem. já li, reli e treli. muito bom! o grande insight pra mim é a responsabilidade que temos quanto aos "fatasmas" na vida do outro. sejamos anjos, não zumbis.. abraço.

Tiago Rodrigues disse...

E quantas vezes sem querer não relembramos pessoas queridas de episódios do passado que elas tem se esforçado pra esquecer...
Mas faço da sua a minha oração: sejamos anjos.
Abraço e Valeu!